A vesícula biliar é uma estrutura que se localiza junto ao fígado em formato sacular. Ela se liga a via biliar através do ducto cístico. Tem como função o armazenamento de bile, uma substância produzida no fígado que auxilia na digestão de gorduras.
Quando comemos alimentos, principalmente ricos em gordura, a vesícula recebe estímulo do intestino para se contrair e liberar a bile, que funciona como um detergente. Assim, ela facilita a digestão dos alimentos gordurosos no intestino delgado.
Em certas situações, a vesícula pode se tornar repleta de cálculos ou popularmente conhecidas como “pedras”. Estas pedras podem gerar complicações e dores abdominais que representam riscos a longo prazo.
O que é pedra na vesícula biliar?
A formação das pedras na vesícula decorre da precipitação de componentes da própria bile, composta de até 75% de colesterol. Ocorre uma desregulação da composição entre o colesterol e sais biliares ou até mesmo devido uma diminuição do esvaziamento da vesícula corroborando para o aumento da concentração desses elementos.
Os cálculos podem aumentar de tamanho à medida que vão ocorrendo mais precipitações de cristais de colesterol ou podem surgir novos cálculos.Logo temos pacientes com 1 cálculo apenas ou uma vesícula repleta de cálculos.
Até 20 % da população apresenta cálculos na vesícula e existem alguns fatores de risco que facilitam a formação destes.
Fatores de risco para pedra na vesícula:
Os fatores relacionados as pedras na vesícula são aqueles que alteram a composição da bile. São eles:
- Dieta rica em gorduras e carboidratos e pobre em fibras;
- Vida sedentária que eleva o LDL (mau colesterol) e diminui o HDL (bom colesterol);
- Diabetes;
- Obesidade;
- Hipertensão (pressão alta);
- Fumo;
- Uso prolongado de anticoncepcionais;
- Idade: aumenta a incidência após os 40 anos.
- Fertilidade: quanto mais filhos, maior a chance de desenvolver cálculos na vesícula biliar.
- Elevação do nível de estrogênio o que explica a incidência 2 vezes maior de cálculos biliares nas mulheres;
- Predisposição genética.
- Doenças como anemias hemolíticas, talassemia e anemia falciforme
- Perda rápida de peso (metade dos pacientes após bariátrica podem desenvolver cálculos na vesícula biliar).
Quais os sintomas de quem tem pedra na vesícula?
A maioria das pessoas possui pedra na vesícula e não sabem, pois nunca apresentaram sintomas. E é exatamente isso que ocorre.Estima-se que apenas 20-30% vão ter sintomas ao longo da vida. Quando sintomáticos, os pacientes referem principalmente dor no lado direito do abdome, logo abaixo das costelas (hipocôndrio direito). Essa dor aparece deforma súbita, principalmente após alimentação gordurosa. Associado a essa queixa pode haver náuseas, vômitos e diminuição do apetite.
A pedra na vesícula também pode evoluir com complicações mais sérias como a inflamação da vesícula chamada de colecistite aguda, com dor persistente e febre associada ao quadro.
Além disso, quadros de icterícia (pele amarelada),ocorrem quando a pedra se desloca da vesícula impactando nos canais da bile. A partir dessa impactação, o paciente pode evoluir com quadro de infecção nas vias biliares conhecida como colangite, pancreatite biliar (inflamação do pâncreas) e coledocolitíase (a pedra fica impactada em um dos canais da bile)que podem oferecer risco de infecções graves se não tratadas.
Como sei se tenho pedra na vesícula?
O principal exame que realiza o diagnóstico de pedra na vesícula é a Ultrassonografia de abdome. É um exame rápido, simples e sem contraindicação.
Também pode ser realizada a Ressonância magnética de abdome quando se suspeita de deslocamento da pedra para as vias biliares (os canais da bile).
Qual o tratamento para pedra na vesícula?
O único tratamento com melhor eficácia é a realização da cirurgia para retirada da vesícula biliar, conhecida como colecistectomia.Hoje em dia a grande maioria dos procedimentos é realizado por videolaparoscopia, que envolve uma cirurgia com incisões mínimas no abdome e uma câmera que permite que o cirurgião trabalhe com pinças no interior da cavidade abdominal.
A recuperação após a cirurgia costuma ser rápida e com ótimo resultado estético.
Sempre devo operar a pedra na vesícula?
Em caso de sintomas sempre é recomendada a cirurgia. Se complicações como inflamação da vesícula, pancreatite de causa biliar, obstrução dos canais da bile (coledocolitíase) também recomendamos que seja realizada a colecistectomia.
Em paciente assintomáticos, devemos considerar fatores como a idade e doenças associadas para avaliarmos se este paciente se encontra apto para submeter-se a um procedimento cirúrgico.
Paciente jovens e sem risco cirúrgico elevado, a cirurgia deve ser a primeira escolha para evitarmos complicações, principalmente quando:
- Microcálculos, que migram mais facilmente para a via biliar.
- Cálculos maiores que 3 cm
- Pólipos na vesícula biliar, principalmente se maiores que 1 cm
- Vesícula em porcelana (parede calcificada que aumenta a chance de câncer de vesícula biliar).
Em idosos, pesamos o risco benefício de submetê-los a um procedimento cirúrgico, principalmente quando há um alto risco cirúrgico devido doenças prévias do paciente.
Recomendações pós-operatórias:
- É normal que os pacientes apresentem um pouco de dor abdominal nos primeiros dias de pós-operatório. Deixamos prescrito analgésicos para controle da dor após a cirurgia.
- É normal ficar um pouco inchado e/ou roxo ao redor das incisões.
- É normal vazar um pouco de secreção nas incisões cirúrgicas.
- É normal o ritmo intestinal ficar alterado nos primeiros dias após a cirurgia.
- Retorno após a cirurgia ocorre em uma semana para reavaliação.
- Geralmente a alta após a cirurgia ocorre no dia seguinte.
- Orientamos evitar principalmente no primeiro mês a ingestão de comidas muito gordurosas. A longo prazo não há restrição alimentar. A bile continuará sendo produzida pelo fígado e lançada no intestino para auxiliar no processo de digestão, apenas não será mais armazenada na vesícula biliar.
- Orientamos nos primeiros 15 dias evitar de dirigir e realizar atividades físicas de esforço. Restrição de atividades que envolvam levantamento de peso (acima de 3kg) e exercícios que aumentem a pressão abdominal nos primeiros 30-40 dias (período da cicatrização). Após, os pacientes estão liberados sem restrições.
- Curativos podem ser trocados diariamente e lavar ferida com água e sabão.
Obs: Cada paciente apresenta suas particularidades que são levadas em conta durante a realização da cirurgia e pós-operatório. Logo as recomendações são individuais respeitando o paciente frente seus próprios sintomas e organismo.